sábado, 29 de janeiro de 2011

Sol-idão

Pelas horas que se passaram, ao longe, vejo o entardecer
Hoje no horizonte do mar, vi o Sol se esconder
E porque você se esconde?
Lá no alto, quase que no mesmo instante, vejo a Lua aparecer
Iluminada
Parece jogo de esconde-esconde. E nesse, os dois nunca se encontram
E por quê?
Justamente porque se o encontro acontecer, Sol e Lua, perderiam o encanto. Será?
Um jogo de solidão e silêncio que machuca os que observam esse desencontro
Luminosidade trazida pelos dois mas nunca ao mesmo tempo
Inspiram bons pensamentos nos que os observam
Amanhece e quando percebem estão tentando não lembrar que o outro existe.
No passar do tempo e de tanto fugirem desse contato o destino vem presenteá-los com um encontro
Apaixonante e lindo
Tudo fica escuro, como que quisessem que ninguém percebesse
Esse de tão magnífico, faz com que todos todos os olhares se voltem para eles
A venerar, Sol e Lua, sendo possuídos um pelo outro
Momento que eles tem a certeza, foram feitos um para o outro
O encaixe é feito de forma tão intensa que não importa se durou segundos ou horas serão eternizados por todos, como o mais belo fenômeno.
E porque isso?
Para nos lembrarmos que a nossa vida também é assim. Alguns poucos momentos serão eternizados em nossa memória. A intensidade fará parte das nossas vidas e por mais que estejamos dispostos a esquecer, nossa memória se dará o direito de preservar cada momento vivido e nos obrigará a relembrar, sempre, desses momentos importantes.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Da Solidão - Cecília Meireles

Perfeito esse texto!! Meireles como sempre teve uma excelente percepção sobre a realidade. Cada vez mais acredito que os textos aparecem em momentos que precisamos refletir sobre o que é mostrado. Esse texto ainda não conhecia mas me trouxe algumas reflexões sobre o que tenho, ultimamente,  pensado.

Há muitas pessoas que sofrem do mal da solidão. Basta que em redor delas se arme o silêncio, que não se manifeste aos seus olhos nenhuma presença humana, para que delas se apodere imensa angústia: como se o peso do céu desabasse sobre sua cabeça, como se dos horizontes se levantasse o anúncio do fim do mundo.

No entanto, haverá na terra verdadeira solidão? Não estamos todos cercados por inúmeros objetos, por infinitas formas da Natureza e o nosso mundo particular não está cheio de lembranças, de sonhos, de raciocínios, de idéias, que impedem uma total solidão?

Tudo é vivo e tudo fala, em redor de nós, embora com vida e voz que não são humanas, mas que podemos aprender a escutar, porque muitas vezes essa linguagem secreta ajuda a esclarecer o nosso próprio mistério. Como aquele Sultão Mamude, que entendia a fala dos pássaros, podemos aplicar toda a nossa sensibilidade a esse aparente vazio de solidão: e pouco a pouco nos sentiremos enriquecidos.

Pintores e fotógrafos andam em volta dos objetos à procura de ângulos, jogos de luz, eloquência de formas, para revelarem aquilo que lhes parece não só o mais estático dos seus aspectos, mas também o mais comunicável, o mais rico de sugestões, o mais capaz de transmitir aquilo que excede os limites físicos desses objetos, constituindo, de certo modo, seu espírito e sua alma.

Façamo-nos também desse modo videntes: olhemos devagar para a cor das paredes, o desenho das cadeiras, a transparência das vidraças, os dóceis panos tecidos sem maiores pretensões. Não procuremos neles a beleza que arrebata logo o olhar, o equilíbrio de linhas, a graça das proporções: muitas vezes seu aspecto - como o das criaturas humanas - é inábil e desajeitado. Mas não é isso que procuramos, apenas: é o seu sentido íntimo que tentamos discernir. Amemos nessas humildes coisas a carga de experiências que representam, e a repercussão, nelas sensível, de tanto trabalho humano, por infindáveis séculos.

Amemos o que sentimos de nós mesmos, nessas variadas coisas, já que, por egoístas que somos, não sabemos amar senão aquilo em que nos encontramos. Amemos o antigo encantamento dos nossos olhos infantis, quando começavam a descobrir o mundo: as nervuras das madeiras, com seus caminhos de bosques e ondas e horizontes; o desenho dos azulejos; o esmalte das louças; os tranquilos, metódicos telhados...Amemos o rumor da água que corre, os sons das máquinas, a inquieta voz dos animais, que desejaríamos traduzir.

Tudo palpita em redor de nós, e é como um dever de amor aplicarmos o ouvido, a vista, o coração a essa infinidade de formas naturais ou artificiais que encerram seu segredo, suas memórias, suas silenciosas experiências. A rosa que se despede de si mesma, o espelho onde pousa o nosso rosto, a fronha por onde se desenham os sonhos de quem dorme, tudo, tudo é um mundo com passado, presente, futuro, pelo qual transitamos atentos ou distraídos. Mundo delicado, que não se impõe com violência: que aceita a nossa frivolidade ou o nosso respeito; que espera que o descubramos, sem anunciar nem pretender prevalecer; que pode ficar para sempre ignorado, sem que por isso deixe de existir; que não faz da sua presença um anúncio exigente " Estou aqui! estou aqui! ". Mas, concentrado em sua essência, só se revela quando os nossos sentidos estão aptos para descobrirem. E que em silêncio nos oferece sua múltipla companhia, generosa e invisível.

Oh! se vos queixais de solidão humana, prestai atenção, em redor de vós, a essa prestigiosa presença, a essa copiosa linguagem que de tudo transborda, e que conversará convosco interminavelmente.

Cecília Meireles

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

MATURIDADE – Emilia Casas

Foi o tempo, meu amigo,
Que me fez assim tão bela...
Deu-me um olhar mais doce
Que o amargo não revela
Lambuzou minhas palavras
Com mel da sabedoria
Nem de mim eu sou escrava
E “ter” não tem mais valia.

Deu-me um sorriso fácil
Que eu distribuo à toa
Se o velho corpo está frágil
A alma criança voa!!!

Escreveu em minha pele
As histórias que eu vivi
Entre glórias e derrotas.
Eis-me aqui – sobrevivi

E livre de toda a ciência
Que o mundo explica e ativa
Deu-me o tempo, por clemência,
O entendimento da vida


A porta do quarto  indica de quem será a poesia que estará impressa na parede do quarto. Idéia maravilhosa que vi em uma pousada em Volta Redonda