sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Mira no quindão da Almira



Hoje o meu quindão mais saboroso precisou ser feito em outro plano. O doce com o amarelo mais perfeito, mais brilhante e o maior tamanho que já desejei que tivesse teve uma encomenda urgente e especial. Para isso solicitaram a maior especialista que já conheci em matéria desse doce. Minha tia e madrinha, a pessoa que me fazia o melhor e mais saboroso de todos os quindões. Minha tia e madrinha sempre cuidadosa em me proporcionar o melhor de todos os momentos fazia uma das coisas que mais nos unia: O quindão.
A simbologia desse doce vai além de um simples doce gostoso e muito calórico. Ele representa a lembrança de todos os anos de nossa convivência. Do cuidado que tinha para que eu estivesse sempre feliz e próxima à ela. Ele era usado quase sempre como mais um atrativo dos encontros que realizávamos. E depois de um convite rápido para mais uma comemoração vinha sua habitual frase...Ju vem que eu farei seu doce... e sempre com a fala das mais infantis dizia: uhhh, vou com certeza!
Como posso pensar que de agora em diante ninguém lembrará que eu gosto desse doce? Mimos que somente quem se importa com a gente consegue fazer por mais que estejamos na categoria “adultos”. Minha tia era assim, mesmo que eu não estivesse mais tão exigente nas minhas tantas manias ela persistia em colocar à mesa sempre a minha sobremesa favorita. Esse era o nosso vínculo de lembrança de infância sempre notória na nossa relação.
                Hoje talvez não esteja tão confortável em dizer que ela foi embora e nunca mais voltará. Isolei-me nesses últimos meses para que não percebesse que estava preocupada demais com o que estava acontecendo. Por que não dizer que eu ignorei seu pedido para que eu fosse vê-la por pura incapacidade de admitir a possibilidade de tão brevemente, não estar mais entre nós. Falar ao telefone me parecia mais confortante e por coincidência desde o começo percebia pela entonação de sua voz como estava se sentindo. Talvez uma conexão para além do que a gente deseja existir.
Hoje perdi uma parte importante e responsável pela minha alegria.  Minha tia sempre me mostrou o quão importante era à família. Como todos, nem sempre compartilhávamos das mesmas opiniões mas sempre superávamos todas as divergências que existiam.
E hoje deixo o meu mais belo e inquietante adeus...
Rio, 28/09/2012


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O romantismo ainda está em alta.

A cena se passou em uma praça interna de um espaço acadêmico onde circulam adolescentes e adultos. Um lugar de convivência comum de públicos acadêmicos diversos mas que teve sua rotina de transeuntes modificada. Estava lá sentado, um adolescente que notava-se logo que não pertencia aquele espaço mas por algum motivo permanecia ali sentado e ansioso. Balançava as pernas como se fosse importante para se acalmar, olhava insistentemente para o celular e parecia que a hora, para ele, não passava.
Presenciei uma bela cena!
Podem dizer que é brega, sem criatividade, mas eu adorei. Talvez a namorada dele tenha apenas percebido a cena final e imediata do acontecido, mas o que eu mais gostei foi ter tido a oportunidade de observar o processo de ansiedade e, por que não dizer, foi isso o que mais me encantou.
Eu, sentada em frente à ele, porém com uma certa distância apenas observava a cena. Algo muito particular me fez compreender um pouco mais do por quê do nervosismo dele. Ao seu lado estava lá, cuidadosamente descansado, um buquê. Uma combinação perfeitamente harmoniosa, entre rosas vermelhas e alguma folhagem verde. Lindamente intercaladas. Nada da exuberância exagerada que exigimos para que as pessoas possam fazer uma cena em um ambiente público. E foi exatamente a delicadeza desse gesto que me encantou.
O tempo que ficamos lá. Eu apenas lanchando e ele nos seus intermináveis cinco minutos foram suficiente para perceber e porque não, me atentar que, o romantismo resistiu às normas da automaticidade.
Ele não parecia querer plateia para admirar o seu feito já que o mesmo estava no canto mais escondido e meia luz da praça. Apenas queria proporcionar um momento para dizer que o outro é importante.
Mas ela nem pôde perceber o tanto de superação aquele rapaz estava passando naquele momento. Hoje talvez com o romantismo um tanto quanto distorcido, um rapaz com um buquê esperando uma pessoa tornou-se, no mínimo, intrigante. Pensamos logo que ele fez alguma coisa muito errada e está com aquele buquê como forma de pedir desculpas. Confesso que por alguns segundos também pensei assim.
Infelizmente não dava mais para continuar observando, meu tempo cessou. Mas quando eu estava me preparando para ir e ele mais uma vez olhava o celular... Observo que imediatamente ele abre um sorriso e direcionando o meu olhar em direção do seu foco percebo o porque do sorriso solto.
Era ela!
E, imediatamente, ele pega o buquê!
E realmente, ela não esperava.
Congelou por alguns segundos e logo o acolheu em seus braços. E nesse momento pude observar que era apenas uma cena de uma pessoa romântica já que ela não demostrava nenhuma irritação motivada pela  atitude ou pelo presente que ele oferecia. Pelo contrário! teria passado despercebida essa cena se ela não gritasse para o restante do grupo que, estava do lado oposto para que os mesmos, para que vissem o que ela tinha recebido.
E com essa cena todos que estavam na praça olharam para ela. E o melhor foi perceber o sorriso estampado no rosto das pessoas, independente da idade ou sexo, que estavam na praça. Esse rapaz com esse singelo gesto fez aflorar o romantismo em todos que ali estavam durante um belo fim de tarde no Rio de Janeiro.
Abraços,
Juliana Nascimento.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O crack e o Fundão

Observação da semana: 
O prefeito Eduardo Paes e suas políticas higienistas da cidade ainda me surpreende. Ultimamente o foco das operações dele tem sido a Avenida Brasil, próximo da entrada da Ilha do Governador.Assim esse e seus comparsas pensam ser suficiente colocar um cercado perto do viaduto para esconder os viciados em crack  e que esses automaticamente se recolheriam para dentro das comunidades e assim visivelmente estaria resolvido o problema. Mas o que eles deduziam que aconteceria ( entrada para as comunidades próximas) não está acontecendo. E não precisava ser muito perspicaz para deduzir que cada vez mais eles se aproximariam da "intocável" Ilha do Fundão... E mais uma vez a universidade se esconde no seu mundo paralelo e muito belo onde não cabe esse tipo de discussão. Com tantas empresas internacionais já instaladas e outras tantas querendo se instalar nesse espaço me parece inadmissível ainda hoje, estarmos com os olhos vendados para a realidade que está do nosso lado. Depois de alguns dias circulando intensamente por esse espaço e já percebendo essa nova particularidade desse ambiente, vejo nada de diferente sendo realizado. Afinal os funcionários dessas empresas tem ônibus exclusivos, usam seus próprios meios de transporte... engraçado como as pessoas não percebem que no micro de sua reflexão vai ficar parada em algumas dessas vias de saída desse local. Mas quem se importa não é mesmo? Pois bem, acabo de ler uma postagem no FACEBOOK de um assalto na passarela da Linha Vermelha onde a pessoa descreve a assaltante como negra, magra, cabelo curto... 
Não seria o retrato do crack? 
Mas continua o relato como se fosse algo da segurança pública. E ainda ressalta que todos devem fazer sua parte indo na delegacia!! Será que relatar um assalto é suficiente para mudar essa situação? Enquanto pensarmos que o crack ou qualquer outra droga é apenas caso de Segurança Pública e principalmente, o que mais me inquietou foi um comentário onde o indivíduo diz para bater nessa pessoa e o mais espantoso  vários curtindo isso...  ler que pessoas entendem que bater nessa pessoa é suficiente para resolver o problema me coloca em questão quem é essa população dita culta da sociedade?  manifestações de repressão ao indivíduo em nada muda! Me surge algumas perguntas: mataremos quantos de tanto bater? quantos mais jovens, negros e de camadas populares precisarão morrer? tenso, não?! 

Abraços,
JN

sábado, 15 de setembro de 2012

Detalhes da vida cotidiana 1

Hoje eu ri horrores observando uma cena e lembrando de uma conversa sobre atitudes que devemos ter quando auxiliamos alguém com dificuldades visuais. Me veio na lembrança os debatedores falando que as pessoas tem mania de ajudar o cego pegando no braço e achando que está auxiliando. Cara!! como eu ri hj... o rapaz todo solicito pegou no braço da senhora e foi segurando até o outro lado da passarela e conversando com ela. Ele deveria ter cedido o braço dele e ficar um pouco à frente dela para que os obstáculos fossem percebidos. Mas ele além de segurar no braço dela o mesmo ainda andava atrás dela. A guia auxiliou muito mais do que ele. Se deixar o mesmo  realmente pensou que estava auxiliando ela. 
Abraços,
JN

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Parasita


Parasita
Parasita é aquele que, se você observar bem, tem sempre um mais perto do que você imagina.
As características desse parasita são sempre semelhantes:
Pouca vontade de fazer as coisas.
Pouca criatividade, mobilidade e destreza nas mais simples ações diárias.
O que prevalece sempre é a vontade de não querer fazer nada.
Às vezes eu me pergunto como esse parasita consegue ficar assim!?
Sem muita perspectiva de vida. Sempre congelado, sem vida, sem brilho, sem emoção...
Sua inércia sempre me incomoda
Talvez desejasse ser só um pouquinho assim...
Isso me pouparia e muito o sentimento da raiva.
O que será que apetece?
Ser igual um parasita...
Nossa! Que isso nunca se efetive...
Prefiro essa inquietação permanente a perceber que deixei de viver...
JN

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Quando foi que acabou?


Olhei hoje pela janela do ônibus e parecia que, por algum motivo, o trânsito ou talvez a necessidade de transgredir aquele espaço me fizeram lembrar daquilo que já passou.
Sem delongas, lá estava eu vendo meu reflexo no vidro e pensando no que passou.
Por um tempo pensei que aquilo foi o fim.
O fim quando não mais nos olhávamos.
O fim quando o que mais desejávamos eram os momentos solitários.
Os encontros eram combinados sem convergência ou emoção.
Estávamos, realmente, cada um em um dos estremos e cada vez menos perceptíveis ao que estava acontecendo.
Pelas nossas idas e vindas, o tempo foi apenas a ida.
O vindo findou.
O silêncio se tornou cada vez mais expressivo.
Partindo de nós mesmos e quando nos entreolhamos apenas o distanciamento se fez presente.
Aos pares, hoje, fazem solidão.
Cada um seguiu sozinho.
E sozinho permaneceu.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Remoção no Pico do Santa Marta

Ler esse texto é tipo entrar em um breve túnel do tempo...agora está asfaltado a subida por Laranjeiras! Desbravar pela mata fazia parte dos momentos mais especiais que tenho da minha infância... chegar ao pico ainda com fôlego era o máximo para qualquer criança... ...nem sei se existi ainda esse caminho pela mata... o povo destrói tudo mesmo... A Colônia de Férias ECO era ou é maravilhosa! Não sei se ainda existi, acredito que sim... encontrei Itamar (Coordenador da ECO) ano passado e foi aquele momento de túnel do tempo total.  Conversamos muito brevemente...Sempre fiz tão naturalmente essa comunicação entre asfalto e favela que pra mim torna redundante perguntar por que não conseguimos evoluir? Vê ainda hoje, pleno século XXI, esses absurdos me irrita profundamente...