quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Um bicho que se inventa - Ferreira Gullar

Uma daquelas crônicas que falam por si...e por mim!


Um bicho que se inventa - Ferreira Gullar
(Folha de São Paulo, 01/01/2006, Caderno Mais!)

Toda pessoa necessita que as demais pessoas a reconheçam tal como ela acredita que é, tal como se inventa para si mesma. Isto significa que, porque somos uma invenção de nós mesmos, o reconhecimento do outro é indispensável a que esta invenção se torne verdadeira. Por isso, se é certo, como disse Jean-Paul Sartre, que "o inferno são os outros", é certo também que está neles o sentido de nossa existência. Um recém-nascido não é ainda um cidadão, quase diria que, a rigor, ainda não é gente: trata-se de um bichinho que traz consigo, potencialmente, todas as qualidades que o tornarão de fato uma pessoa. Sim, porque uma pessoa, mais que um ser natural, é um ser cultural. Certamente, não pretendo dizer que a pessoa não seja o seu corpo material, esse organismo que pulsa, respira e pensa; tanto é que, sem ele, simplesmente ela não existiria, e é nele que repousam todas as qualidades que permitirão o surgimento da pessoa humana que cada recém-nascido se tornará. 
 Mas não há nenhum fatalismo nisso. Se é verdade que o recém-nascido já possui qualidades e traços próprios que o tornam diferente de todos os outros, não significa que se tornará inevitavelmente o indivíduo X. Não, o que ele se tornará -e é imprevisível- dependerá em boa parte de como assimilará os valores que a educação lhe ofereça. No princípio, o que ele aprende são as normas básicas de sobrevivência e convívio. Só mais tarde conhecerá os valores que absorverá de acordo com suas idiossincrasias, face aos quais reagirá de maneira própria e, assim, irá, passo a passo, se formando e se inventando como ser humano.
A sociedade humana foi inventada por nossos antepassados. Quem nasce hoje já a encontra inventada, material e espiritualmente, com seus equipamentos, valores e princípios que a constituem e definem. É dentro desta realidade cultural, complexa e contraditória, que ele vai se inventar como indivíduo único e inconfundível. Porque cada um de nós quer ser assim: único e inconfundível. Viver é, portanto, inventar-se: inventar sua vida, sua função no mundo, sua presença.
Obviamente, nem todos têm a mesma capacidade de inventar-se e reinventar o mundo. Alguns levam essa capacidade a ponto de mudar de maneira radical o universo cultural que encontraram ao nele integrar-se, como o fizeram por exemplo Isaac Newton ou Albert Einstein, Sócrates ou Karl Marx, William Shakespeare ou Wolfgang Goethe, Leonardo da Vinci ou Pablo Picasso...
Mas a humanidade não é constituída apenas de gênios, que, na verdade, são exceções. Não obstante, todas as pessoas, em maior ou menor grau, se inventam e contribuem para que o mundo humano se mantenha e se renove. Aliás, se os gênios contribuem para a reinvenção do universo cultural -que é o nosso espaço de vida-, a vasta maioria das pessoas é responsável pela preservação do que já foi inventado. Por isso mesmo, a maioria é conservadora e freqüentemente resiste às mudanças e inovações. É que essa maioria não tem noção de que vive num mundo inventado, de que a vida é inventada e de que os valores, que lhe parecem permanentes, também o são. Eles não foram ditados por nenhum ente divino, mas inventados pelos homens conformes suas necessidades e possibilidades. E também, conforme elas, podem ser mudados.
O homem é o único animal que se inventa e inventa o mundo em que vive. A colméia, que a abelha fabrica hoje, tem os casulos da mesma forma hexagonal que tinha desde que surgiram no planeta as primeiras abelhas. Já o habitat humano vem mudando desde sempre, da caverna natural ao casebre, que se transformou em aldeia, povoado, cidade até chegar à megalópole de hoje. O homem, para o bem ou para o mal, mudou a face do planeta, utilizou os recursos naturais para produzir seu mundo tecnológico e dinâmico. Mudou a natureza, alterou o seu funcionamento biológico, meteorológico, sísmico. Seu habitat é primordialmente a cidade, esta complexíssima máquina que só funciona graças à tecnologia que inventamos e desenvolvemos incessantemente.
Quando digo que o homem se inventa, não sugiro que se trata de mera fantasia sem base na realidade . Newton inventou o cálculo infinitesimal, linguagem das ciências exatas, que não existia. A ciência inventou as leis da física, que sempre atuaram na natureza, mas que eram como se não existissem no entendimento humano. As invenções da arte são de outro tipo: Shakespeare inventou a complexidade da alma humana que, se não fosse ele, estaria como se não existisse. Ou seja, a partir da natureza ou de sua imaginação, o homem se inventa e constrói um universo cultural que é seu verdadeiro espaço de existência.
O homem criou também, além do mundo material, além da ciência e da técnica, o mundo simbólico da filosofia, da música, da poesia, do teatro, do cinema. Inventou os valores éticos e estéticos. Inventou a Justiça, embora sendo injusto. E por que, então, a inventou? Porque quer ser melhor do que é, quer -como disse o poeta Höderlin- "ultrapassar o campo do possível". Inventou até Deus, que é a resposta à fatalidade da morte e às perguntas sem resposta. O homem inventou Deus para que este o criasse. Filho dileto de Deus, pode assim aspirar à ressurreição.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Cogito - Torquato Neto

Mexendo em um livro encontrei a seguinte poesia, retirado do livro Os Cem melhores poemas brasileiros do século...forte e linda!

Cogito - Torquato Neto

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.



domingo, 14 de agosto de 2011

Pensamentos Soltos: Retrocedendo no debate sobre gênero

Pensamentos Soltos: Retrocedendo no debate sobre gênero: "Quando li essa reportagem (vide reportagem abaixo) me perguntei algumas coisas: Pesquisa científica virou bagunça? Por que somente as m..."

Por que Deus seria reprovado pelo CNPq e CAPES?

Com o currículo que tem Deus certamente seria reprovado pelo CNPq e CAPES, pelas seguintes razões:

1. Só tem uma publicação;
2. Esta publicação não foi escrita em inglês, e sim em hebraico (mesmo que tenha sido traduzida para vários idiomas);
3. A referida publicação não contém referências bibliográficas;
4. Não tem publicações em revistas indexadas, ou comissão editorial, ou ainda com parcerias;
5. Há quem duvide que sua publicação tenha sido escrita por ele mesmo.
Em um exame rápido, nota-se a mão de, pelo menos, 11 colaboradores;
6. Talvez tenha criado o mundo. Mas o que tem feito, ou publicado, desde então?
7. Dedicou pouco tempo ao trabalho (apenas 6 dias seguidos);
8. Poucos colaboradores Seus são conhecidos;
9. A comunidade científica tem muita dificuldade em reproduzir seus resultados;
10. Seu principal colaborador caiu em desgraça ao desejar iniciar uma linha de pesquisa própria;
11. Nunca pediu autorização aos Comitês de Ética para trabalhar com seres humanos;
12. Quando os seus resultados não foram satisfatórios, afogou a população;
13. Se alguém não se comporta como havia predito, elimina-o da amostra;
14. Dá poucas aulas e o aluno, para ser aprovado, tem que ler apenas seu livro, caracterizando endogenia de idéias;
15. Segundo parece Seu Filho é que ministra Suas aulas;
16. Atua com nepotismo, fazendo com que tratem Seu Filho como se fora Ele mesmo;
17. Ainda que Seu programa básico de curso tenha apenas dez pontos, a maior parte dos Seus alunos é reprovada;
18. Alem de suas horas de orientação serem pouco frequentes, apenas atende seus alunos no cume de uma montanha;
19. Expulsou os Seus dois primeiros orientados por aprenderem muito;
20. Não teve aulas e nem fez mestrado com PhDeuses;
21. Não defendeu teses de doutorado ou Livre Docência;
22. Não se submeteu a uma banca de doutores titulares;
23. Não fez proficiência em inglês;
24. Não existe comprovação de participação sua em bancas examinadoras e de publicação de artigos no exterior...

Recebi por e-mail essa mensagem!!! muito interessante...

JN.