Hoje o meu quindão mais saboroso
precisou ser feito em outro plano. O doce com o amarelo mais perfeito, mais
brilhante e o maior tamanho que já desejei que tivesse teve uma encomenda
urgente e especial. Para isso solicitaram a maior especialista que já conheci
em matéria desse doce. Minha tia e madrinha, a pessoa que me fazia o melhor e
mais saboroso de todos os quindões. Minha tia e madrinha sempre cuidadosa em me
proporcionar o melhor de todos os momentos fazia uma das coisas que mais nos
unia: O quindão.
A simbologia desse doce vai além de
um simples doce gostoso e muito calórico. Ele representa a lembrança de todos os
anos de nossa convivência. Do cuidado que tinha para que eu estivesse sempre feliz e próxima
à ela. Ele era usado quase sempre como mais um atrativo dos encontros que
realizávamos. E depois de um convite rápido para mais uma comemoração vinha sua
habitual frase...Ju vem que eu farei seu doce... e sempre com a fala das mais infantis
dizia: uhhh, vou com certeza!
Como posso pensar que de agora em
diante ninguém lembrará que eu gosto desse doce? Mimos que somente quem se
importa com a gente consegue fazer por mais que estejamos na categoria “adultos”.
Minha tia era assim, mesmo que eu não estivesse mais tão exigente nas minhas
tantas manias ela persistia em colocar à mesa sempre a minha sobremesa
favorita. Esse era o nosso vínculo de lembrança de infância sempre notória na
nossa relação.
Hoje
talvez não esteja tão confortável em dizer que ela foi embora e nunca mais voltará. Isolei-me
nesses últimos meses para que não percebesse que estava preocupada demais com o
que estava acontecendo. Por que não dizer que eu ignorei seu pedido para que eu
fosse vê-la por pura incapacidade de admitir a possibilidade de tão brevemente, não estar mais
entre nós. Falar ao telefone me parecia mais confortante e por
coincidência desde o começo percebia pela entonação de sua voz como estava se
sentindo. Talvez uma conexão para além do que a gente deseja existir.
Hoje perdi uma parte importante e
responsável pela minha alegria. Minha
tia sempre me mostrou o quão importante era à família. Como todos, nem sempre compartilhávamos
das mesmas opiniões mas sempre superávamos todas as divergências que existiam.
E hoje deixo o meu mais belo e
inquietante adeus...
Rio, 28/09/2012